sábado, 27 de fevereiro de 2016

Distância Fria

   Quando quem nos vai aquecendo o coração está bem longe a situação não é de todo fácil.
   Por um lado, o querer ler palavras que nos arranquem os mais genuínos sorrisos, por outro, o não querer que essas palavras nos lembrem como que um despertador daqueles bem chatos que tocam ás 8h da manhã sem cessar, quando estamos demasiado ensonados para ter discernimento para saber como se desliga, quantos são os quilómetros que essas palavras tentam unir. É querer dizer tudo o que estamos a sentir e não querer para que não nos convençamos ainda mais do que sentimos. É querer estar bem perto e afastarmo-nos em simultâneo porque toda a proximidade não passará de viagens feitas pela nossa imaginação e afinal, sempre nos ensinam a tentar ser realistas e a limitar os nossos sonhos.
   Contar os dias que faltem para o próximo reencontro é bem difícil , mas não se aproxima da dificuldade que é ter plena noção que a distância que existe entre duas pessoas, as impede de serem felizes e que não há, no momento, maneira de contornar essa distância, ou, se há, ainda não a descobri e é tudo o que preciso agora, já que o meu coração costuma andar bem perto de temperaturas negativas e falamos da única pessoa que pode inverter isso e tirá-lo do Inverno, que teima em ser rigoroso.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Infância, onde foste?

  Sabes que és adulto quando vês os teus pais, juntamente com a irmã mais nova, a partir em viagem e tu ficas, tentando construir as próprias férias.
  Ansiei até hoje pelo momento em que seria independente. Lutei pela independência, arranjei trabalhos enquanto estudo na tentativa de precisar cada vez menos dos meus pais. Hoje, inesperadamente, senti-me triste em vê-los partir. Fiquei acordado até de madrugada para dizer o último adeus, ver apagarem-se as últimas luzes e ouvir o carro poderosamente sonoro a distanciar-se. De repente era só eu. Escrevo porque, como quase sempre que escrevo, rebento de emoções, estranhamente, tendo em conta a hora. O silêncio instalou-se e aguardam-me doze dias, inteiramente por minha conta.
  O que mais me admira é que ás 5h da manhã de qualquer outro dia, o silêncio e a paz cá em casa seriam exatamente iguais, mas eu saberia que eles cá estavam e por isso, a última seria maior.
  Agora sei que não há retorno. Foi-se a infância e as férias orientadas por eles. Já lá vai a etapa que dizem ser uma das melhores das nossas vidas e eles, os três, galgam quilómetros ansiando por ver novos locais, ansiando entrar na cidade de Londres. Sabiam que era o meu destino de eleição se tivesse que escolher um local para viajar. Infelizmente, não me foi possível acompanhá-los, porque já não sou mais um menino e tenho as minhas responsabilidades.
  Só me resta uma alternativa: levantar a cabeça, desejar que cheguem bem e lutar, como sempre fiz, pelo meu sucesso individual e por garantir uma vida estável para mim mesmo, para um dia, se assim estiver destinado, ser eu a partir, com a filha ou o filho mais novo, rumo a Londres ou a qualquer destino de tão grande dimensão, deixando o ou os filhos mais velhos com os mesmos ideiais que eu tenho agora.
  Até já família, que corra tudo perfeito. Um abraço

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Portugal

  Corre-me uma lágrima que cai solitária ao ver Portugal ajoelhar-se, através de 11 almas que representam milhões. De peito cheio cantaram o hino e fizeram Portugal inteiro e todas as pessoas que firmemente os apoia, acreditar que era possível. Temos o melhor do mundo e uma grande seleção, porém, onde está a identidade desta equipa? Para onde foi o futebol que move um país fanático, que põe um país amante do futebol em alvoroço? Não reconheço esta equipa e a desilusão espelha-se nos rostos de todos os portugueses que assistem ao segundo jogo do Mundial, no Brasil.
   Os brasileiros, que nos reconhecem como seu país pai, que sabem que fomos nós que descobrimos o país onde hoje habitam, que falam a mesma língua que nós, também acreditaram e apoiaram-nos incondicionalmente, desde a chegada dos nossos jogadores, à entrada em campo e ao final de cada jogo. E voltaram a fazê-lo depois da derrota pesada frente à Alemanha. Fizeram-no, porque nós somos Portugal!
   E agora... está quase tudo terminado! Os braços estão cansados de levantar os cachecóis e erguer as bandeiras em vão. O país pequenino que sonhava tornar-se gigante através da conquista do Brasil, já deixou de sonhar. Mas é possível, ainda, e resta-nos a todos, olhar para o verde de que a nossa bandeira é constituída e ter esperança, porque para um português, nada é impossível! Até ao último minuto do último jogo que possa ver da nossa seleção, com maior ou menor importância, força Portugal!
   Ainda que desapontado, como todos os portugueses, o apoio continua e continuará a ser incondicional.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

QUERO Benalmádena!

   Na verdade, falei já de viagens antes. Não quero de forma alguma tornar-me repetitivo ou descrever cada viagem que faço. A verdade é que gosto realmente de viajar e o destino da última semana marcou-me para toda a minha vida, seja longa, ou indesejavelmente curta. Não importa de facto que duração possa a minha vida ter, importa que obteve mais uma marca, que não será apagada.
  Provavelmente a pergunta que está a ocorrer ao leitor deste texto será qual foi afinal o destino. Para tal, respondo de forma sucinta: Benalmádena, Sul de Espanha, viagem de finalistas. Sete noites no paraíso, resumindo mais ainda. 
   Foi a viagem mais ilusória que alguma vez fiz. São criadas rotinas totalmente diferentes, feitas amizades e refeitas outras. Pessoas que também deixaram marca desde há muito tempo são reencontradas. Todos os caminhos iam dar a Benalmádena e o que é certo é que ninguém que lá esteve queria de lá sair. Não é um dado falso, é realmente o paraíso - está ali, num hotel chamado Playa Bonita, numa vila em que a noite reina. 
   É tarde e ainda não recuperei do desgosto de estar agora no meu verdadeiro quarto, olhando á minha volta á procura da varanda em frente ao mar ou esperando que o vento marítimo que com o luar chegava me enregele os pés através da porta envidraçada entreaberta. Não consigo encarar o facto de chamar pelos meus colegas de quarto e eles não responderem porque não estão realmente aqui. Todos os dias sonho que a cama em que estou precisamente agora, deitado, é a mesma em que me deitei há dias e que acordarei com o sol a entrar pelo quarto e a servir de despertador para mais um dia único e diferente de todos os outros. Estarei a enlouquecer ou será tudo vontade de que isto seja realmente verdade? E se estivesse a sonhar estar a escrever um texto no meu verdadeiro quarto enquanto durmo umas horas em Benalmádena para que o dia seguinte não seja excessivamente duro? Seria o melhor acordar de sempre, é verdade... Quem sabe!
    Quero descer aquela escadaria infernal de pisos e pisos até chegar ao rés do chão e poder ir para a piscina apanhar banhos de sol pela tarde, de toalha ao ombro e acompanhado por dezenas de pessoas que faziam o mesmo trajeto na mesma hora. Anseio pelos fins de tarde quentes nos quais já estava presente na mente de todos os que partilhavam os mesmos horários, como seria a noite desse mesmo dia. 
    Desejo de uma forma desmedida cheirar o mar, esquecer os problemas, fumar um cigarro, sentar nas cadeiras de madeira almofadadas que ocupavam a varanda e esticar as pernas, até que os meus pés estejam para lá do gradeamento da mesma, até que seja novamente noite. Quero esperar pelos autocarros em filas intermináveis e conversar dentro deles com quem, para não perder a boleia, se sentava ocasionalmente ao meu lado. Quero não ter horas e devorar a pizza que se vende na praça por não ter comido rigorosamente nada durante todo o dia. Apetece-me voltar de manhã ao hotel e percorrer os corredores desertos e sem sentir cada passo que dava. E que toda a rotina se repita por dias e dias. 
    E como esta viagem mental até Benalmádena se torna cada vez mais insuficiente, porque a memória não alimenta mais do que o psicológico, quero voltar, quero sentir e quero liberdade, "just one more time"!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Mentiras, Mentiras!

  A verdade é que toda a gente tem o normalíssimo costume de dizer que odeia mentiras. E a verdade é que toda a gente tem o estranho costume de mentir.
  Ninguém vive sem segredos, omissões e mentiras. É triste, mas nunca ouvi dizer que a realidade era supostamente feliz e gratificante.
  Pela própria felicidade na maior parte das vezes; pela felicidade dos outros, se forem consideradas minorias; para adiar falhas, porque a mentira não foi nunca, nem será, resolução para nenhuma adversidade; por amor quem sabe... Toda a espécie humana já mentiu! E continuamos todos a afirmar, como os mais puros inocentes que se destacam dentro da própria sociedade, como os "eleitos", os diferentes e espontâneos, que odiamos mentiras! Ou frequentemente o ser humano opta por tomar atitudes que odeia, ou então, até essa afirmação é uma mentira.
   E eu, porque todas as frases que escrevo são um espelho, procuro a honestidade e a inocência para que possa abraçá-las, tornar-me eu próprio uma pessoa melhor e encontrar, pelo menos, alguém com estas raras (ou únicas mesmo) caraterísticas. Talvez tenha encontrado já... Questão de, se me for permitido, averiguar e conseguir certezas.
   E se realmente for como me diz o meu instinto, terei a sorte inédita e terei eu que mudar, de modo a que possamos ficar minimamente compatíveis, porque eu sou um ser humano comum e como tal, há alturas em que sou um mentiroso.
 
 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Dead

   É admiravelmente pouco usual vermos as pessoas a falar abertamente sobre o tema da morte. Arriscaria afirmar que isto acontece porque ninguém capacitado para escrever, falar ou gesticular, a conhece realmente. Nem mesmo eu, que escrevo sobre ela agora, a conheço de facto, de maneira que este texto não passará definitivamente de um processo totalmente criativo e imaginário.
   Uma outra possibilidade para o facto de o último "ponto final" neste grande livro que é a vida ser pouco debatido, talvez seja o medo que o termo morte cause a quem o utilize. Não é realmente uma palavra que possa ser pronunciada de ânimo leve e sem que traga pensamentos menos positivos.
    O que é a morte, afinal? Confesso ser um tema que me desperta curiosidade, embora não tenha pressa alguma em saber. A meu ver, o maior mistério que o Homem enfrenta. Ausência de sensações? Vazio eterno, sem pensar, respirar, comer, sorrir? Tranquilidade e descanso... Inquietação e sofrimento? Para onde iremos?
    Na realidade, porque encaramos a morte como algo tão negativo se não a conhecemos? O segredo pode estar mesmo neste aspeto. O Homem demonstra medo de tudo aquilo que não conhece.
    Todos os dias, pessoas nos deixam, partem na mais longa das viagens e nós, enquanto percorremos a mais longa estrada, lembrámos rostos apagados, olhares vazios. O maior mar do planeta azul será provavelmente a saudade, que escorre pelos olhos de todos aqueles que veem partir as pessoas que mais desejavam que não embarcassem na inevitável e derradeira viagem, navegando à vela neste mar da saudade, rumo ao esquecimento.
    Apesar de tudo, concluo com tristeza que este tema, mais debatido ou não, não passará de um processo criativo e imaginário, à semelhança deste texto... Certo é que todos os dias a morte percorre as nossas ruas, passa-nos ao lado, leva pessoas. Quem sabe se também ela não sente saudade, se não se sente sozinha e procura a melhor companhia sem cessar buscas e sempre sem sucesso, qual eterna insatisfeita. Quem sabe, daqui por muitos anos, ou mais cedo até, se não poderemos ser bons amigos, já que afinal, como alguém grande dizia, "é a única verdade incontestável".

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

(Sinto-me) Solitário

  Sou um ser solitário. Triste verdade que tardei a reconhecer, na tentativa de me convencer a mim mesmo de que a realidade não era essa.
  Sinto-me só todos os dias, sem exceção, sozinho mesmo que rodeado de pessoas a quem habitualmente chamo de amigos.
   Incompleto. Sinto-me metade e não vem em mapa nenhum, em livro qualquer, não está em parte alguma, instrução ou dica para encontrar a outra metade, a que me falta. Não sei se perdi, se nunca cheguei a encontrar, se me passou ao lado ou se está perto. Na verdade não sei. Sinto-me como um vagabundo que percorre as ruas à procura de sol e só encontra chuva e tempestade.
   Sei apenas que terei que ser eu a procurar o que preciso, quando precisar, porque ninguém pode ser feliz por ninguém e lá fora, poucos os que se incomodam a pensar na felicidade de alguém. O mundo está ao contrário. Os sentimentos andam desligados... ou serei eu que não sintonizo.
   Uma vez disseram-me que quem tem imaginação nunca está sozinho. Por isso imagino... E escrevo.