quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Dead

   É admiravelmente pouco usual vermos as pessoas a falar abertamente sobre o tema da morte. Arriscaria afirmar que isto acontece porque ninguém capacitado para escrever, falar ou gesticular, a conhece realmente. Nem mesmo eu, que escrevo sobre ela agora, a conheço de facto, de maneira que este texto não passará definitivamente de um processo totalmente criativo e imaginário.
   Uma outra possibilidade para o facto de o último "ponto final" neste grande livro que é a vida ser pouco debatido, talvez seja o medo que o termo morte cause a quem o utilize. Não é realmente uma palavra que possa ser pronunciada de ânimo leve e sem que traga pensamentos menos positivos.
    O que é a morte, afinal? Confesso ser um tema que me desperta curiosidade, embora não tenha pressa alguma em saber. A meu ver, o maior mistério que o Homem enfrenta. Ausência de sensações? Vazio eterno, sem pensar, respirar, comer, sorrir? Tranquilidade e descanso... Inquietação e sofrimento? Para onde iremos?
    Na realidade, porque encaramos a morte como algo tão negativo se não a conhecemos? O segredo pode estar mesmo neste aspeto. O Homem demonstra medo de tudo aquilo que não conhece.
    Todos os dias, pessoas nos deixam, partem na mais longa das viagens e nós, enquanto percorremos a mais longa estrada, lembrámos rostos apagados, olhares vazios. O maior mar do planeta azul será provavelmente a saudade, que escorre pelos olhos de todos aqueles que veem partir as pessoas que mais desejavam que não embarcassem na inevitável e derradeira viagem, navegando à vela neste mar da saudade, rumo ao esquecimento.
    Apesar de tudo, concluo com tristeza que este tema, mais debatido ou não, não passará de um processo criativo e imaginário, à semelhança deste texto... Certo é que todos os dias a morte percorre as nossas ruas, passa-nos ao lado, leva pessoas. Quem sabe se também ela não sente saudade, se não se sente sozinha e procura a melhor companhia sem cessar buscas e sempre sem sucesso, qual eterna insatisfeita. Quem sabe, daqui por muitos anos, ou mais cedo até, se não poderemos ser bons amigos, já que afinal, como alguém grande dizia, "é a única verdade incontestável".

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