sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Mentiras, Mentiras!

  A verdade é que toda a gente tem o normalíssimo costume de dizer que odeia mentiras. E a verdade é que toda a gente tem o estranho costume de mentir.
  Ninguém vive sem segredos, omissões e mentiras. É triste, mas nunca ouvi dizer que a realidade era supostamente feliz e gratificante.
  Pela própria felicidade na maior parte das vezes; pela felicidade dos outros, se forem consideradas minorias; para adiar falhas, porque a mentira não foi nunca, nem será, resolução para nenhuma adversidade; por amor quem sabe... Toda a espécie humana já mentiu! E continuamos todos a afirmar, como os mais puros inocentes que se destacam dentro da própria sociedade, como os "eleitos", os diferentes e espontâneos, que odiamos mentiras! Ou frequentemente o ser humano opta por tomar atitudes que odeia, ou então, até essa afirmação é uma mentira.
   E eu, porque todas as frases que escrevo são um espelho, procuro a honestidade e a inocência para que possa abraçá-las, tornar-me eu próprio uma pessoa melhor e encontrar, pelo menos, alguém com estas raras (ou únicas mesmo) caraterísticas. Talvez tenha encontrado já... Questão de, se me for permitido, averiguar e conseguir certezas.
   E se realmente for como me diz o meu instinto, terei a sorte inédita e terei eu que mudar, de modo a que possamos ficar minimamente compatíveis, porque eu sou um ser humano comum e como tal, há alturas em que sou um mentiroso.
 
 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Dead

   É admiravelmente pouco usual vermos as pessoas a falar abertamente sobre o tema da morte. Arriscaria afirmar que isto acontece porque ninguém capacitado para escrever, falar ou gesticular, a conhece realmente. Nem mesmo eu, que escrevo sobre ela agora, a conheço de facto, de maneira que este texto não passará definitivamente de um processo totalmente criativo e imaginário.
   Uma outra possibilidade para o facto de o último "ponto final" neste grande livro que é a vida ser pouco debatido, talvez seja o medo que o termo morte cause a quem o utilize. Não é realmente uma palavra que possa ser pronunciada de ânimo leve e sem que traga pensamentos menos positivos.
    O que é a morte, afinal? Confesso ser um tema que me desperta curiosidade, embora não tenha pressa alguma em saber. A meu ver, o maior mistério que o Homem enfrenta. Ausência de sensações? Vazio eterno, sem pensar, respirar, comer, sorrir? Tranquilidade e descanso... Inquietação e sofrimento? Para onde iremos?
    Na realidade, porque encaramos a morte como algo tão negativo se não a conhecemos? O segredo pode estar mesmo neste aspeto. O Homem demonstra medo de tudo aquilo que não conhece.
    Todos os dias, pessoas nos deixam, partem na mais longa das viagens e nós, enquanto percorremos a mais longa estrada, lembrámos rostos apagados, olhares vazios. O maior mar do planeta azul será provavelmente a saudade, que escorre pelos olhos de todos aqueles que veem partir as pessoas que mais desejavam que não embarcassem na inevitável e derradeira viagem, navegando à vela neste mar da saudade, rumo ao esquecimento.
    Apesar de tudo, concluo com tristeza que este tema, mais debatido ou não, não passará de um processo criativo e imaginário, à semelhança deste texto... Certo é que todos os dias a morte percorre as nossas ruas, passa-nos ao lado, leva pessoas. Quem sabe se também ela não sente saudade, se não se sente sozinha e procura a melhor companhia sem cessar buscas e sempre sem sucesso, qual eterna insatisfeita. Quem sabe, daqui por muitos anos, ou mais cedo até, se não poderemos ser bons amigos, já que afinal, como alguém grande dizia, "é a única verdade incontestável".

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

(Sinto-me) Solitário

  Sou um ser solitário. Triste verdade que tardei a reconhecer, na tentativa de me convencer a mim mesmo de que a realidade não era essa.
  Sinto-me só todos os dias, sem exceção, sozinho mesmo que rodeado de pessoas a quem habitualmente chamo de amigos.
   Incompleto. Sinto-me metade e não vem em mapa nenhum, em livro qualquer, não está em parte alguma, instrução ou dica para encontrar a outra metade, a que me falta. Não sei se perdi, se nunca cheguei a encontrar, se me passou ao lado ou se está perto. Na verdade não sei. Sinto-me como um vagabundo que percorre as ruas à procura de sol e só encontra chuva e tempestade.
   Sei apenas que terei que ser eu a procurar o que preciso, quando precisar, porque ninguém pode ser feliz por ninguém e lá fora, poucos os que se incomodam a pensar na felicidade de alguém. O mundo está ao contrário. Os sentimentos andam desligados... ou serei eu que não sintonizo.
   Uma vez disseram-me que quem tem imaginação nunca está sozinho. Por isso imagino... E escrevo.