terça-feira, 5 de agosto de 2014

Infância, onde foste?

  Sabes que és adulto quando vês os teus pais, juntamente com a irmã mais nova, a partir em viagem e tu ficas, tentando construir as próprias férias.
  Ansiei até hoje pelo momento em que seria independente. Lutei pela independência, arranjei trabalhos enquanto estudo na tentativa de precisar cada vez menos dos meus pais. Hoje, inesperadamente, senti-me triste em vê-los partir. Fiquei acordado até de madrugada para dizer o último adeus, ver apagarem-se as últimas luzes e ouvir o carro poderosamente sonoro a distanciar-se. De repente era só eu. Escrevo porque, como quase sempre que escrevo, rebento de emoções, estranhamente, tendo em conta a hora. O silêncio instalou-se e aguardam-me doze dias, inteiramente por minha conta.
  O que mais me admira é que ás 5h da manhã de qualquer outro dia, o silêncio e a paz cá em casa seriam exatamente iguais, mas eu saberia que eles cá estavam e por isso, a última seria maior.
  Agora sei que não há retorno. Foi-se a infância e as férias orientadas por eles. Já lá vai a etapa que dizem ser uma das melhores das nossas vidas e eles, os três, galgam quilómetros ansiando por ver novos locais, ansiando entrar na cidade de Londres. Sabiam que era o meu destino de eleição se tivesse que escolher um local para viajar. Infelizmente, não me foi possível acompanhá-los, porque já não sou mais um menino e tenho as minhas responsabilidades.
  Só me resta uma alternativa: levantar a cabeça, desejar que cheguem bem e lutar, como sempre fiz, pelo meu sucesso individual e por garantir uma vida estável para mim mesmo, para um dia, se assim estiver destinado, ser eu a partir, com a filha ou o filho mais novo, rumo a Londres ou a qualquer destino de tão grande dimensão, deixando o ou os filhos mais velhos com os mesmos ideiais que eu tenho agora.
  Até já família, que corra tudo perfeito. Um abraço

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